O serviço realiza adequações para que o estudante tenha condições de prosseguir com os estudos e se sentir parte da universidade
Por Vitória Castelo Branco - 4º período
A psicopedagoga e coordenadora do NAAP, Geórgia Andreia Oliveira, explica que o núcleo atende todos os estudantes da instituição que sintam necessidade de apoio em função das mais diversas perspectivas, seja por transtorno, deficiência ou queixa emocional (Foto: Arquivo Pessoal) |
O Núcleo de Apoio e Atendimento Psicopedagógico (NAAP) da Unidade Madureira, da Universidade Estácio de Sá, se dedica a construir um ambiente inclusivo que ofereça ao universitário condições de continuidade aos estudos e desenvolvimento integral. Esse trabalho é realizado em conjunto com os coordenadores, professores e mediadores que adequarão as atividades de acordo com as necessidades do indivíduo.
"Eu gosto muito da perspectiva da educação inclusiva, mas com esse olhar de empatia, que você reconheça e possa ajudar. Só botar ele na sala de aula não adianta. É a gente poder dar espaço para ele poder ter acesso como a gente”, destacou Geórgia.
Geórgia ressalta a importância da autodeclaração no ato da matrícula para que o núcleo possa trabalhar ativamente na adaptação do estudante à universidade, mas os casos autodeclarados não correspondem com a quantidade que passou a receber mediante encaminhamento dos educadores e mediadores. Geralmente esses alunos não se autodeclaram porque carregam sequelas da educação básica, onde não tiveram uma experiência satisfatória, e camuflam a condição por vergonha e medo de ser alvo de preconceito e exclusão.
“Eles ficam preocupados com bullying também. De repente sofreu a vida toda e não gostaria que aqui na faculdade fosse mais um local. O bullying na verdade não deixa de ser uma exclusão, que às vezes não é uma exclusão as claras, mas a partir do momento que aquele indivíduo não é colocado em grupo, ninguém de repente o xingou, proferiu pra ele nenhuma palavra ofensiva, mas você entende que quando deixa ele num canto significa alguma coisa? Significa. [Ele fala] Poxa, ninguém quer fazer trabalho comigo. Tem um significado. Eu acredito que enquanto adultos há um certo refinamento para exclusão. A exclusão é refinada, velada. E muitas vezes fica no seu inconsciente. Será que é realmente eu que estou vendo coisas onde não existem ou realmente as pessoas estão me colocando no cantinho? É uma coisa pra refletir..." - complementou Geórgia.
Entretanto, ocultar isso será um disparador de problemas já que em algum momento o curso vai exigir mais do discente. Por esse motivo, é essencial compartilhar a situação com a instituição para que a passagem pela faculdade seja satisfatória e o aluno não passe por esse processo sozinho.
O NAAP atua em conjunto com os coordenadores e professores a fim de trazer essas adequações para dentro da sala de aula. Eles pensam no que está interferindo no processo de aprendizagem e criam maneiras de ajustar a dinâmica das aulas para que o estudante possa se desenvolver e dar conta das exigências do curso. Essa parceria leva em consideração a vivência de aprendizagem do aluno e como ele consegue se desenvolver.
“Um adulto que já tem uma vivência, um adulto que já estudou, não concorda? A faculdade, eu digo que é o resultado final do processo. Ele já passou pela educação básica. Então ele sabe como, se ele tem alguma situação, alguma queixa, seja ela de fundo emocional ou algum transtorno de deficiência, seja lá o que for, quase sempre ele me dá as pistas de como agir.” - comentou Geórgia.
Com esse objetivo, o serviço promove a adaptação das atividades acadêmicas de acordo com cada caso:
- Os estudantes com deficiência visual ou baixa visão possuem acesso à tecnologia assistiva como computadores com softwares (NVDA e 2BOX) que fazem a leitura de artigos. Eles também podem ser auxiliados por um ledor e escriba que irá ler e transcrever. Quem tem baixa visão poderá fazer uso de fonte aumentada. A unidade também dispõe de portas e passagens com sinalização em braille e piso tátil para melhor locomoção.
- Os estudantes com deficiência auditiva contam com o acompanhamento de um intérprete de libras que terá conhecimento de sinais apropriados para o curso. O intérprete e tradutor vai estabelecer o elo entre professor e aluno durante as aulas e dará suporte em todas as ações que ele for promover na faculdade.
- Os estudantes com algum transtorno ou queixa emocional podem ser amparados por técnicas e métodos adaptados para as suas necessidades como: organização do tempo e dos estudos, atividades realizadas em um tempo maior, comandos de ações, estimulação de socialização, auxílio de um ledor e escriba e direito a um tempo maior de prova dentro da sala de aula ou em uma sala à parte com um mediador. Quem sentir necessidade por essas questões pode negociar a flexibilização da grade com o coordenador para assistir mais aulas de forma remota do que presencial.
Maria Gilsieve Brandão da Silva Flores, de 35 anos, conheceu o núcleo através de uma madrinha veterana que percebeu a sua dificuldade dentro da sala de aula (Foto: Vitória Castelo Branco) |
“Eu fiquei preocupada de não conseguir acompanhar as aulas e me preocupei com a questão dos professores, deles não serem acessíveis, mas eles são extremamente acessíveis. Me preocupei com a questão das provas, de eu não conseguir fazer as provas porque eu tenho dificuldade de enxergar letras pequenas. Mas aí através do NAAP, eu já vou conseguir fazer as provas desse semestre com o auxílio de letra ampliada.” - contou Maria.
Solandia Aparecida Sousa Silva, de 35 anos, encaminhou Maria para o NAAP a fim de promover as adequações necessárias para a continuidade dos estudos da colega (Foto: Arquivo Pessoal) |
Solandia Aparecida, estudante de biomedicina, aceitou participar do programa madrinha veterana com o objetivo de oferecer assistência aos colegas. Ela se dedica a ajudar os novos estudantes na adaptação à universidade e a esclarecer dúvidas sobre questões acadêmicas.
“O NAAP mudou muito a minha forma de pensar na questão da gente olhar para o ser humano. Quando eu me tornei a madrinha do curso de biomedicina, a gente acaba tendo de repente um olhar mais sensível, criterioso. É de mim, de querer ajudar o próximo de alguma forma.” - contou Solandia.
A professora Érica Rezende Colodeti conta que realiza adequações personalizadas dentro da sala de aula para que o aluno possa se desenvolver e se adaptar no ambiente acadêmico (Foto: Arquivo Pessoal) |
“O NAAP me deu uma visão também de que o aluno não tem só a ajuda do professor, mas ele tem a estrutura da unidade e de um psicopedagogo para auxiliar em questões que muitas vezes a gente não consegue [sozinho], porque a atuação do professor para as necessidades especiais é limitada. Então muitas vezes vai precisar de ferramentas que vão vir do NAAP mesmo.” - acrescenta Érica.
A atuação psicopedagógica no ensino superior é um braço de apoio que ajuda o aluno a desenvolver e potencializar habilidades durante a trajetória acadêmica. Esse apoio é fundamental para promover o bem-estar, proporcionar a noção de que fazem parte de uma comunidade e dar condições de permanência na universidade.
“Eu acredito que os núcleos [trabalham] com a perspectiva que o aluno tenha condições de acesso e permanência. Não é só entrar na faculdade, é continuar.” - completa Geórgia.
Com essa finalidade, a instituição também desenvolve projetos de extensão universitária que possibilitam a troca de saberes e ampliam as ações para além da sala de aula:
- O programa padrinho veterano ajuda na adaptação dos novos estudantes através do acolhimento dos calouros pelos veteranos do mesmo curso e da orientação sobre os processos acadêmicos.
- A monitoria estudantil consiste na formação de monitoria de disciplinas ministrada por um aluno experiente que possa contribuir com a aprendizagem e desenvolvimento do colega.
- As oficinas psicopedagógicas auxiliam no processo de ensino e aprendizagem como: oficina de ledor e escriba, oficina de mapa conceitual ou mental, oficina de organização do tempo, entre outras.
Muito bom 😃
ResponderExcluirEXCELENTE !
ResponderExcluirExcelente iniciativa 👏
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