A BOCA DO INFERNO: PARA ALÉM DOS 29 ANOS DO CARANDIRU

Reportagem que abre a nova série do #NoMuro chamada Casos Inesquecíveis relembra fatos que ocorreram no passado e que marcaram na história

Por Rafael Bahia e Rodrigo Lucas

Detentos no presídio do Carandiru jogando futebol (Foto: João Wainer)

Segundo dados da INFOPEN (órgão que é um banco de dados do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça) o Brasil é o terceiro país do mundo que mais encarcera, perdendo somente para a Rússia em segundo lugar e os Estados Unidos em primeiro lugar. 

Apesar do senso comum propagar que a nação brasileira é o país da impunidade, o país tem cerca de 773 mil detentos, é como se toda a cidade de Uberlândia (a segunda cidade mais populosa do estado de Minas Gerais) tivesse em reclusão. Entretanto, a superlotação em cadeias não é um episódio ímpar ou isolado da história brasileira, no ano de 1992, o complexo penitenciário do Carandiru era o maior presídio da América Latina. 

Ele foi projetado por Ramos de Azevedo e nas palavras do próprio era para comportar cerca de 2 mil detentos, mas devido ao aumento da criminalidade na metrópole, o número de reclusos pulou para 8 mil. O espaço que hoje é o Parque da Juventude e Biblioteca de São Paulo, guarda a história consigo de carnificina e negligência do Estado de São Paulo. 

As condições de vida dentro da penitenciária não dava ao detento, meios de ressocialização para com a sociedade, visto que no contexto havia uma série de detentos com tuberculose. É como diz o médico Dráuzio Varella que desde 1989 trabalhava como voluntário no local: “dos 90% que estão no ambulatório possuem a doença”. 

Para além da infecção tuberculosa, a casa de detenção vivenciou uma epidemia do HIV durante o fim dos anos 80 e início dos anos 90. Em um minidocumentário feito pela própria equipe do Dr° Dráuzio Varella chamado “Aids no Carandiru” explana a problemática, em um breve depoimento, um detento em estado terminal confessa querer “ser tratado como gente”. 

Com o massacre de 1992, que levou 111 detentos ao óbito, o pavilhão 9 ficou com seus corredores cobertos de sangue e corpos espalhados pelo chão, disseminando ainda mais o número de portadores do vírus HIV. 

Apesar de na última quarta (dia 06), completar 29 anos do massacre, ninguém foi responsabilizado pela ação. O mandante na época foi o ex-governador Antônio Fleury Filho, que durante a rebelião, ordenou a intervenção ostensiva da Polícia Militar. 

Ao ser questionado quanto ao episódio em entrevista para a Veja, ele disse categoricamente: “não tenho nenhum tipo de arrependimento. Faria tudo o que fiz de novo. Tenho responsabilidade política pelo que houve. Não me eximo dela. Mas responsabilidade pessoal eu não tenho”.

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