Série: Tá por fora! Sobre Preconceito Sexual


 Último episódio da série de matérias sobre preconceitos, abordando a homofobia.

Por Vanessa Sabino

Foto: Vanessa Sabino e Ruan Oliveira @zinruan_07


De acordo com o Grupo Gay da Bahia, o Brasil é o primeiro no ranking de violência contra homossexuais, seguido por México e Estados Unidos.  Levantamentos do ano de 2016, da Secretaria de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), destaca que 68% dos jovens LGBTQIA+ já foram agredidos ou sofreram algum tipo de ameaça. 


A homofobia, ou o termo atual conhecido como LGBTfobia, consiste na discriminação, aversão ou ódio, podendo ser individual ou coletivo, considerando inferiores as pessoas LGBTQIA+ em relação a heteronormatividade.


Desde os anos 80, milhares de brasileiros e brasileiras vêm lutando pela garantia dos direitos humanos de homossexuais, conforme dados da Secretaria Especial dos Direitos Humanos.


Durante muito tempo, homossexuais eram retratados na televisão com tons de chacota de forma caricata, estereotipados como afetados e cheios de trejeitos. Porém, um início de uma conscientização vem mudando essa história, mesmo que lentamente, e eles passaram a ser mostrados nas novelas, por exemplo, como pessoas comuns, que realmente são, com empregos comuns como qualquer outro indivíduo. 


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Em 2004, o governo federal lançou o Programa Brasil Sem Homofobia, que tem promovido, desde então, campanhas em prol do respeito à diversidade sexual, combate à homofobia, ações reparadoras da cidadania da comunidade LGBTQIA+ e promoção da autoestima, incentivo à denúncia de violações dos direitos humanos dessa população, entre outras ações importantes. E em 2019 o Supremo Tribunal Federal

(STF) criminalizou a LGBTIfobia.


O assistente de logística, André Alves, de 40 anos, conta que a homossexualidade não é uma escolha. Desde pequeno já percebia que se interessava por pessoas do mesmo sexo: 

“Por volta dos meus sete ou oito anos, eu sentia algo diferente no meu corpo, mesmo sendo uma sensação boa e sem saber o que era. Dali em diante foi crescendo e me perguntando: ‘Como pode eu ter esse desejo por homens sabendo que "não é certo"’? Durante minha adolescência já flertei e até namorei mulheres, mesmo sendo alguns namoros rápidos ou, como na época diziam ‘ficadas’. Mas tudo isso foi tipo uma fuga porque já sabia que mulher ‘não era minha praia’”.


Ele revela que sofreu preconceito na adolescência devido à sua sexualidade e também como foi contar para sua mãe sobre sua orientação:

“Já fui muito zoado na época da escola também de ‘b******’ e ‘v******’ [termos pejorativos]. Num determinado momento, já com meus 17 anos, contei pra minha mãe que era homossexual e até estava na época namorando um garoto escondido. Durou três meses. [...] foi a primeira vez namorando um homem. Ela me proibiu na época de chegar perto dele e chorou muito com minha revelação. Nessas idas e vindas, o tempo foi passando e há uns três anos acordei com minha mãe chorando e me beijando, pedindo desculpas por não me aceitar na época, mas que no fundo ela quer que eu seja feliz e demos um abraço diferente de tantos outros que já demos. Percebi que as mães, pelo menos a maioria delas, têm medo do que vamos sofrer, da violência e etc. Hoje em dia, tenho três anos de casamento com outro rapaz e minha mãe chega a chamá-lo de genro e tudo. E estou feliz vivendo a vida independentemente dos percalços. Mas nada que um bom diálogo não resolva. E mesmo com os obstáculos da vida, quando há equilíbrio, diálogo, harmonia, compreensão e tantos outros adjetivos há também a superação”.

O rapaz também ressalta suas tentativas de adequação à heteronormatividade:

“Antes eu sofria muito por querer fazer as coisas, por ser o que a sociedade e minha família queiram, mas não me atentava ao meu amor próprio, não me valorizava nesse sentido. Medo de não ser aceito pela sociedade mesmo, entende? Mas graças a Deus, tenho conseguido fazer a caminhada mesmo sendo longa”.

Apesar de campanhas de combate à homofobia, as conquistas dessa causa até o momento são insuficientes. Ainda há muita luta pela frente, na elaboração de políticas públicas e na conscientização do respeito às diferenças. 


Muitos não denunciam as agressões e violências sofridas por terem a certeza de que não encontraram apoio específico dos órgãos de saúde, proteção e justiça. Porém, é fundamental a denúncia contra a LGBTfobia, pois como isso entidades competentes poderão ter acesso aos dados, como a quantidade e as formas destes atos para, a partir daí, elaborar políticas eficazes de combate ao preconceito sexual, conforme indica o site Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil.


As denúncias podem ser feitas através do Disque 100, do governo federal ou até mesmo pelo site do Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil. Mas se a agressão/violência estiver ocorrendo em tempo real, é indicado entrar em contato com a Polícia Militar pelo telefone 190.


É importante ressaltar que não são apenas esses quatro temas abordados nessa série (preconceito racial, gênero, regional e sexual) que existem. Diversos são os tipos de discriminação que ainda perpetuam na sociedade, como o preconceito religioso e crença, linguístico, etnia, idade, deficiência física entre tantos outros.


Cada cidadão e cidadã precisa fazer sua parte, deixar o preconceito de lado, aprender com as diferenças para que nossa sociedade possa alcançar os direitos democráticos, os quais todos nós merecemos. E lembre-se, se presenciar qualquer tipo de agressão e preconceito, denuncie.




Pesquisas:

https://www.camara.leg.br/radio/programas/272728-homossexualidade-3-preconceito-contra-homossexuais-pode-chegar-a-violencia-05-48/ Acesso em 11 de outubro de 2022.

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/brasil_sem_homofobia.pdf Acesso em 11 de outubro de 2022.

https://observatoriomorteseviolenciaslgbtibrasil.org/canal-de-denuncia/lgbtfobia/?gclid=EAIaIQobChMIuon31ajY-gIVWEFIAB3YlAnoEAAYASAAEgJt8vD_BwE Acesso em 11 de outubro de 2022.

https://www.abglt.org Acesso em 14 de outubro de 2022.

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