RECORDAR É VIVER- Futebol como símbolo de amor ao bairro

 A Série está na segunda temporada e vai abordar a ligação dos clubes com seus bairros.

Por Sérgio Homem (7º Período) 



A mudança cultural da cidade levou o futebol para o subúrbio.Foto REPRODUÇÃO/LUDOPÉDIO 


Com a grande concorrência do remo e da corrida de cavalo, o futebol começa a ser jogado na cidade do Rio de Janeiro com mais força nas zonas Sul e Central da cidade. O esporte surge elitizado e praticado quase que exclusivamente pelas classes com melhor situação financeira, até o momento que foi levado para as fábricas e os trabalhadores começaram a despertar o interesse em praticar o esporte de origem britânica que vinha conquistando.

Porém, foi ganhando grande popularidade entre funcionários das empresas e, desta forma, foi se disseminando pelo subúrbio cuja característica marcante é a mistura cultural que a região apresenta, devido ao movimento de urbanização realizado no centro do Rio de Janeiro que deslocava a população negra para mais longe.

Os novos moradores se juntaram aos antigos da região e participaram da criação dos clubes, que na maioria dos casos, traziam a referência dos bairros em seus nomes, e assim foram grandes veículos para a formação de identidades locais.

Na série documental “Recordar é Viver” que aborda o Centro de Memória dos clubes do Rio de Janeiro, a segunda temporada fala sobre: Olaria Atlético Clube, Campo Grande A.C. e o Madureira E.C. e contam um pouco da relação de carinho com o bairro e moradores.

Orgulho do Bairro: Campeão de 1981 e dono do “Alçapão” da Bariri

Pedro Paulo Vital fala do orgulho do bairro com o clube. Foto: Nana Tavares 


Localizado na região também conhecida como “Leopoldina”, o Bairro de Olaria ganhou este nome devido a instalação de diversas fábricas de tijolos que aproveitavam o barro vermelho do solo, tornando o lugar conhecido como Região “das Olarias” e, no ano de 1886, a localidade passou a ser chamada assim.  

Para homenagear o bairro de fundação, em 01 de julho de 1915 nasceu o Olaria A.C. que se destaca como uma das melhores estruturas poliesportivas do Estado do Rio de Janeiro e com a sua vida social ativa. Primeiro clube da carreira de Romário e o último da de Garrincha, estádio que intimidava os grandes clubes da cidade cuja maior conquista foi o Campeonato Brasileiro da Série Bronze, equivalente à terceira divisão, de 1981, que orgulha o bairro e torcedores. 

“A história do nosso clube deve orgulhar todo olariense. Porque além de termos nossa sede e nosso estádio sem contar com nenhum apoio do governo, temos nossa história recheada de títulos, tradição e simbolismo. E isso não é para qualquer um”. Comentou Pedro Paulo Vital- torcedor, Vice-presidente e pesquisador do clube.

No ano de 2022, o Clube foi vice-campeão da segunda divisão carioca e não conseguiu o sonhado retorno para a primeira divisão estadual.

Paixão em preto e branco: Campeão de 1982 e o primeiro Fla x Flu na Zona Oeste

Clube foi resgatado por moradores do bairro e voltou a futebol profissional. Foto Sergio Homem 


Bairro mais extenso, com a maior população do Rio de Janeiro e que quase se tornou uma cidade. Localizado na zona oeste, suas terras planas cercadas por montanhas servem de estímulo para um contato maior com a natureza. Historicamente, o bairro de Campo Grande notabilizou-se por ter se desenvolvido de forma independente do resto do município, nasceu com espírito empreendedor. Dos engenhos de açúcar passou para as culturas de café, de legumes e verduras, de laranjas até a avicultura. Desde os primeiros anos do século XX até os anos 40.

O Campo Grande Atlético Clube foi fundado em 13 de junho de 1940, tem as cores branca e preta, presente no uniforme principal formado por camisa de listras verticais alvinegras, calções e meias pretas. É dono do Estádio Ítalo del Cima (O nome é uma homenagem ao imigrante italiano e comerciante do bairro de Campo Grande que cedeu o terreno para construção do estádio) que no campeonato carioca de 1992 realizou o clássico Fla x Flu com a vitória tricolor pelo placar mínimo. A maior conquista do “campusca” foi o campeonato brasileiro da série prata, equivalente à segunda divisão atual, no ano de 1982. 

Existe uma relação de amor entre o clube e o bairro: atravessando grave crise financeira e política desde o final da década de 1990, o “galo da zona oeste” chegou a se desfiliar por algum período e recentemente voltou ao futebol. “Encontramos o clube falido. Não tinha água, energia elétrica cortada e quadro social praticamente zerado. Contamos com o carinho dos moradores do bairro, comerciantes locais e aos poucos estamos reerguendo o clube. O caminho ainda é longo, mas já estamos com nosso social funcionando e gradativamente voltando as disputas do futebol onde já conseguimos dois acessos nos últimos três anos” - comentou o diretor geral do clube Rafael Papera.

Disputando a série B2, terceira divisão, o clube não conseguiu bom desempenho e foi rebaixado para série C, quarta divisão, no ano de 2023.

 

Na terra do carnaval, o tricolor suburbano tem o seu espaço

"Piau" fala da ligação do clube com Escolas de Samba e comércio de Madureira. Foto Nana Tavares


Um dos bairros mais simbólicos da cidade do Rio de Janeiro, Madureira começou a surgir após o loteamento de uma antiga fazenda na região e aos poucos foi se urbanizando principalmente com a chegada dos trilhos em 1858 acelerou o processo de urbanização.

Berço da cultura negra com o Jongo e o crescimento do samba, em 1914 foi fundado o Madureira Futebol Clube que, após uma série de fusões entre clubes menores da região, adotou o nome atual de Madureira Esporte Clube.

O clube faz parte do dia a dia dos moradores do bairro. Possuem ligação com Portela e Império Serrano onde, em diversas oportunidades, ofereceu as suas dependências para escolas ensaiarem.

O comércio local sempre foi conectado ao Madureira Esporte Clube, pois em 1932,  os comerciantes lideraram um movimento para que fosse fundado um grande clube em Madureira, que devido às fusões, permitiram que o clube passasse a ter inúmeros imóveis comerciais alugados no bairro. “Temos muito orgulho do nosso patrimônio. Por conta das fusões temos diversos pontos comerciais alugados no bairro que nos ajudam na organização do clube e a manter nossas contas pagas. ” - Disse Luís Miguel, Diretor de comunicação do clube.

Celeiro de grandes craques, duas vezes vice-campeão estadual, recordista de tempo excursionando exemplo de organização, o clube é querido e acompanhado pelos moradores do bairro. É comum ver moradores com a camisa do clube pelas ruas do bairro. “Temos uma ótima relação com os moradores e empresas locais. Recebemos apoio e carinho nas competições que disputamos. Todos entendem que representamos muito mais do que o clube, mas também o bairro e seus moradores. ” - Comentou o vice-presidente do clube Marcelo Duba.

O tricolor suburbano é figura presente na primeira divisão carioca e constantemente disputa divisões de acesso do campeonato brasileiro.


A segunda temporada da série documental “Recordar é Viver” tem previsão de estreia para a segunda quinzena de Janeiro de 2023 e pode ser acompanhada no canal da youtube CJ MADU.


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