O Rio e sua metamorfose geográfica

O problema social da falta de moradia no Rio de Janeiro e o que ela provoca

Por Rafael Bahia e Rodrigo Lucas

 

Foto: Antônio Carlos Costa

A moradia como um todo, é uma pauta recorrente no contexto do Rio de Janeiro. Os altos aluguéis, a gentrificação da cidade, a especulação imobiliária e a precariedade das habitações têm se mostrado como assunto cada vez mais comum; um bom exemplo é a comunidade da Muzema, localizada na Zona Oeste, onde um prédio não legalizado pela prefeitura do Rio desabou, deixando 24 mortos.

 

Entretanto, mesmo havendo a naturalização da insalubridade habitacional, fica o questionamento: como a tomou essa geografia conturbada? A segregação socioespacial no município do Rio, é fruto de políticas públicas higienistas dentro do processo histórico da cidade, e o crescimento exponencial da população carioca. Prova cabal foi a Reforma Pereira Passos no início do século XX, em que buscou trazer uma reforma urbana para a região central da cidade - através de demolições de cortiços, criação de impostos para pequenos comerciantes, e até mesmo perseguição aos desvalidos.

 

A política higienista de Pereira Passos é reportada nas palavras do cronista e jornalista contemporâneo ao prefeito, João do Rio, diz ele em versos no livro “A alma encantadora das Ruas”:

 

“(...) não conhece nem a sua própria planta, nem a vida de toda essa sociedade, de todos esses meios estranhos e exóticos, de todas as profissões que constituem o progresso, a dor, a miséria da vasta Babel que se transforma. E entretanto, meu caro, quanto soluço, quanta ambição, quanto horror e também quanta compensação na vida humilde que estamos a ver.”

 

Em meados dos anos 50 e 60, a especulação imobiliária buscava investir na Zona Sul, onde até então a maior parte da região nobre era ocupada por comunidades, que foram removidas pelo governador Carlos Lacerda, e que até mesmo sofreram com incêndios como nas extintas favelas: Praia do Pinto, localizado no bairro do Leblon; a da Catacumba e Ilha das Dragas, ambas nas margens da Lagoa Rodrigo De Freitas. Em especial, o caso emblemático de um incêndio criminoso que consumiu a Favela da Praia do Pinto, na madrugada do dia 11 de maio de 1969, deixando cerca de 9 mil desabrigados que aos poucos foram realocados em conjuntos habitacionais como na então recém-nascida Cidade Alta e Cidade de Deus.

 

As ocupações irregulares no Rio de Janeiro hoje estão tomando proporções perigosas, o poder paralelo na Zona Oeste está construindo apartamentos em áreas de preservação ambiental, se o poder público continuar vendo a situação da região e fingir que não viu, teremos mais desabamentos como na Muzema e cada vez mais poluição nos mares do estado do Rio. Não é mais como na época do surgimento do Rio das Pedras, onde retirantes nordestinos vieram começaram a construir casas e o bairro para trabalharem na Barra da Tijuca e no resto da região, agora são forças que tem dinheiro que querem lucrar a qualquer custo, porque muita gente quer ter algum lugar para morar e tem gente que paga para ver.

 

A Baixada Fluminense também sofre com problemas de infraestrutura devido a ocupação desordenada, cidades que antes tinham 20 mil habitantes até os anos 60, agora tem centenas de milhares de habitantes morando em casas que mais se parecem quitinetes, com poucos espaços livres. Consequência da migração de moradores buscando oportunidades na capital, e que como o Rio de Janeiro não tem casas e terrenos a preços bons, as pessoas iam para a Baixada procurarem terrenos para continuarem perto do Rio.

 

Essas cidades acabaram virando cidades-dormitório, onde as pessoas só iam para dormir, agora com a crise é que os moradores da Baixada que ainda trabalham estão começando a trabalhar cada vez mais perto de casa, pois na necessidade, o morador abre seu próprio negócio ou é contratado por uma empresa que está ali perto de casa ou em algum município vizinho, pois hoje o Centro do Rio de Janeiro e seus bairros adjacentes estão completamente falidos.

 

Solução mágica não existe, mas algo que ajudaria tanto para aquela região quanto para os problemas de habitação da cidade do Rio são os empreendimentos residenciais/comerciais, onde tem o comércio no primeiro andar e o resto são residenciais, isso resolveria em parte o problema, a outra solução teria que ser enfrentar o problema de frente, construir conjuntos habitacionais em regiões onde hoje são grandes favelões, na Zona Norte e Oeste e enfrentar as forças estranhas que exploram a moradia irregular no Rio de Janeiro.

 

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem