Por Rafael Bahia
O dia 27 de setembro tem um toque especial nas periferias do Rio e Baixada Fluminense, trata-se do dia dos santos gêmeos da Igreja Católica: São Cosme e São Damião. Na data, o sincretismo e a tolerância entre as religiões é celebrada; os povos de matrizes africanas, junto aos católicos e simpatizantes distribuem doces para as inúmeras crianças que em frenesi se alegram com os tradicionais saquinhos de doces.
Os gêmeos árabes em vida foram médicos e missionários por toda a Península Arábica, que por amor à sua fé, não cobravam os feitos de cura. Como forma de afeto, os próprios ofertavam crianças enfermas com doces e quitutes em geral. Fato é que, por serem figuras emblemáticas e cristãs durante o Império Romano, foram perseguidos, torturados e mortos sob as ordens do Imperador Diocleciano, no ano de 260 depois de Cristo.
No Brasil colônia, a figura dos santos mediterrâneos foi usada como forma dos negros escravizados ou em diáspora, de cultuar-se as entidades como Ibeji e Erês. Entretanto, há uma terceira figura que é representada muitas das vezes em imagens, o chamado Doum. Segundo Luiz Antonio Simas, historiador e Babalaô dentro do culto de Ifá, Doum é o encontro do sincretismo de fato:
“(...) .o encontro entre Ibeji, o orixá iorubano que guarda os gêmeos, e os santos médicos católicos, só podia dar numa mistura lambuzada de invenções bonitas da vida.
Para além disso, complementa o historiador em uma thread no Twitter:
“(...) Doum é a encruzilhada da invenção do mundo transgredindo o precário. Menino de um Brasil possível, passeador suburbano na garupa do cavalo de São Jorge, que o Brasil oficial, pensado como um projeto de desencantamento da vida pela domesticação dos corpos parece querer matar.”