2 de julho – A independência não-oficial

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O primeiro passo para a independência da Bahia | Ilustração: Domínio Público

Por Rafael Bahia

A narrativa de fatos históricos no Brasil é disputada, vide exemplo a independência do Brasil colônia que por muitos se iniciou com o dia 7 de setembro de 1822, quando Dom Pedro nas margens do Ipiranga proclamou que as relações tinham sido cortadas com Portugal e seus altos impostos, além de que a liberdade seria uma garantia para todos, aos brados da famosa frase: “Independência ou morte!”

Entretanto, a dita liberdade era falaciosa, com a independência constituindo no Brasil uma monarquia absolutista, além de mais 6 décadas de Brasil escravista.

O fato é, o modo de que a história é narrada no sudeste brasileiro nos leva a crer que foi brando. O historiador e escritor Dias Tavares, autor do livro “Independência da Bahia no Brasil” afirma:

“(...) o 7 de setembro é então uma data simbólica, não é realmente a da independência do Brasil, mesmo porque um enorme pedaço do país ainda não era independente.”

Em seu livro, o autor aborda a Independência da Bahia do dia 2 de julho de 1823, que para Dias Tavares, é de fato a legítima independência do Brasil devido sua singularidade na capitania:

“(...) que acontecia numa província como era a Bahia, que tinha artigos da maior importância no comércio internacional, além de um porto de fácil acesso para quem chegasse da Europa, da Índia ou da África, criava uma situação muito especial para a manutenção da unidade do país.”

O contexto é, na colônia já se efervescia ideias abolicionistas e liberalistas, além de um descontentamento geral com os altos impostos da metrópole portuguesa. Por toda a América Latina, no mesmo período, colônias escravistas conseguiam estabelecer sua independência em lutas violentas contra seus respectivos colonizadores, como por exemplo o personagem Simón Bolivar, líder militar que por via armada conquistou a independência e abolição da escravidão na grande “Grã-Colômbia” - o que hoje é território de países como Venezuela, Colômbia, Bolívia e Equador.

Com isso, no dia 14 de junho de 1822, é feita na câmara da vila de Santo Amaro da Purificação, uma unidade nacional feita por conservadores, liberais, monarquistas reconhecendo a autoridade do príncipe Dom Pedro - três meses antes da proclamação no Rio Ipiranga. Portugal temendo uma insurgência, enviou inúmeras tropas para a Bahia de todos os Santos, cerca de 9 a 10 mil segundo Dias Tavares, com o ímpeto de oprimir possíveis revoltas.

Desse modo, um legítimo levante popular foi instaurado contra os colonizadores. O diferencial, é que contou com a participação dos mais variados tipos de grupos étnicos e classes, é como diz o próprio autor:

“(...) um exército de esfarrapados…brasileiros filhos de escravos, descendentes de escravos, brasileiros brancos pobres que nada tinham além de uma roça de cana plantada para o senhor de engenho.”

Após inúmeros confrontos bélicos nas trincheiras, em cidades como Cachoeira e Santo Amaro da Purificação. Os revoltosos avançaram sentido Salvador, que mesmo sendo tomados pela febre tifóide e tuberculose ocuparam o bairro do Pirajá, em que ocorreu a batalha decisiva para a independência. Esgotados, os portugueses partem em retirada, vencidos por um exército onde negros, caboclos, indígenas e até mesmo mulheres lutaram lado a lado.


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